Elemento | |
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18ArArgônio39.94812
8 8 |
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Propriedades básicas | |
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Número atômico | 18 |
Massa atômica | 39.9481 amu |
Família de elementos | Gases Nobel |
Período | 3 |
Grupo | 18 |
Bloquear | p-block |
Ano de descoberta | 1894 |
Distribuição de isótopos |
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36Ar 0.337% 38Ar 0.063% 40Ar 99.600% |
40Ar (99.60%) |
Propriedades físicas | |
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Densidade | 0.0017837 g/cm3 (STP) |
(H) 8.988E-5 Meitnério (Mt) 28 | |
Fusão | -189.19 °C |
Hélio (He) -272.2 Carbono (C) 3675 | |
Ebulição | -185.9 °C |
Hélio (He) -268.9 Tungstênio (W) 5927 |
Propriedades químicas | |
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Estados de oxidação (menos comum) | (0) |
Potencial da primeira ionização | 15.759 eV |
Césio (Cs) 3.894 Hélio (He) 24.587 | |
Afinidade eletrônica | -1.000 eV |
Nobélio (No) -2.33 (Cl) 3.612725 |
Raio atômico | |
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Raio covalente | 0.96 Å |
(H) 0.32 Francium (Fr) 2.6 | |
Van der Waals raio | 1.88 Å |
(H) 1.2 Francium (Fr) 3.48 | |
Propriedades eletrônicas | |
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Elétrons por camada | 2, 8, 8 |
Configuração eletrônica | [Ne] 3s2 |
Modelo de átomo de Bohr
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Diagrama de caixa orbital
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Elétrons de valência | 8 |
Estrutura de pontos de Lewis |
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Visualização Orbital | |
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Elétrons | - |
Argônio (Ar): Elemento da Tabela Periódica
Resumo
O argônio (Ar, número atômico 18) constitui o terceiro gás mais abundante na atmosfera terrestre, com 0,934% em volume, sendo o gás nobre mais prevalente no ambiente terrestre. Este elemento monatômico exibe excepcional inércia química devido à sua configuração eletrônica completa [Ne]3s²3p⁶, tornando-o virtualmente não reativo sob condições normais. O isótopo terrestre predominante ⁴⁰Ar (99,6% de abundância) origina-se do decaimento radiogênico de ⁴⁰K na crosta terrestre, distinguindo-se da composição isotópica cósmica onde ³⁶Ar é dominante. Aplicações industriais exploram a inércia e baixa condutividade térmica do argônio em processos de alta temperatura, operações de soldagem e sistemas de preservação. A temperatura do ponto triplo do argônio (83,8058 K) serve como referência fundamental na Escala Internacional de Temperatura de 1990. Descobertas recentes de compostos metastáveis, como o fluoreto de argônio hidreto (HArF) estável abaixo de 17 K, desafiam conceitos tradicionais de reatividade dos gases nobres, expandindo o entendimento das ligações químicas sob condições extremas.
Introdução
O argônio ocupa a posição 18 na tabela periódica como o membro terminal do terceiro período e o primeiro da série dos gases nobres a apresentar abundância significativa na Terra. Seu nome deriva do grego ἀργόν (argon), significando "preguiçoso" ou "inativo", refletindo sua extraordinária resistência a combinações químicas. Esta inércia química resulta da configuração completa da camada de valência, que minimiza o potencial termodinâmico para formação de compostos, estabelecendo o argônio como elemento arquetípico não reativo.
A descoberta do argônio em 1894 por Lord Rayleigh e Sir William Ramsay marcou uma mudança de paradigma na classificação periódica, revelando a existência de um novo grupo de elementos que desafiou o arranjo original de Mendeleev baseado no peso atômico. Essa descoberta levou ao reconhecimento do número atômico como princípio organizador fundamental da tabela periódica, resolvendo a aparente anomalia da maior massa atômica do argônio em relação ao potássio, apesar de vir antes em tendências de reatividade.
A relevância contemporânea do argônio vai além do interesse acadêmico, abrangendo aplicações industriais críticas que aproveitam sua inércia química, propriedades físicas adequadas e acessibilidade econômica. Sua abundância em fontes atmosféricas permite produção em larga escala através de separação criogênica do ar, sustentando diversas aplicações tecnológicas, desde processos metalúrgicos até instrumentação científica.
Propriedades Físicas e Estrutura Atômica
Parâmetros Atômicos Fundamentais
A estrutura atômica do argônio baseia-se no núcleo com 18 prótons, definindo sua posição na tabela periódica. A configuração eletrônica no estado fundamental [Ne]3s²3p⁶ representa uma estrutura fechada com subcamadas s e p completamente preenchidas, conferindo estabilidade excepcional através da minimização das repulsões eletrônicas e otimização das atrações núcleo-elétron.
O raio atômico do argônio mede 188 pm (covalente) e 188 pm (van der Waals), refletindo a ausência de ligações químicas convencionais que definiriam raios iônicos. Cálculos de carga nuclear efetiva indicam Z_eff = 6,76 para os elétrons mais externos, equilibrada por blindagem significativa das camadas internas. Essa configuração resulta em energias de ionização excepcionalmente altas: primeira energia de ionização 1520,6 kJ/mol, segunda 2665,8 kJ/mol e terceira 3931 kJ/mol, demonstrando a desfavorabilidade energética da remoção de elétrons da configuração octeto estável.
As propriedades magnéticas revelam que ³⁹Ar possui spin nuclear I = 7/2 e momento magnético μ = -1,59 magnetons nucleares, enquanto o isótopo predominante ⁴⁰Ar apresenta spin nuclear zero, simplificando análises espectroscópicas que utilizam técnicas de ressonância magnética nuclear.
Características Físicas Macroscópicas
O argônio manifesta-se como um gás incolor, inodoro e insípido sob temperatura e pressão padrão, exibindo luminescência lilás/violeta característica quando submetido a descarga elétrica. Sua estrutura monatômica impede vibrações moleculares, rotações ou modos energéticos internos que contribuiriam para complexidade espectroscópica ou reatividade química.
Parâmetros termodinâmicos críticos incluem temperatura do ponto triplo de 83,8058 K sob pressão de 69,0 kPa, servindo como padrão de referência fundamental na termometria de precisão. O ponto de ebulição ocorre a 87,302 K (1 atm), enquanto o ponto de fusão corresponde a 83,8058 K sob pressão padrão. Essas temperaturas relativamente baixas refletem forças intermoleculares fracas limitadas às interações de van der Waals entre distribuições eletrônicas esfericamente simétricas.
Medidas de densidade indicam 1,784 kg/m³ para o argônio gasoso nas condições padrão, aproximadamente 1,38 vezes a densidade do ar. O argônio líquido apresenta densidade de 1,40 g/cm³ no ponto de ebulição, enquanto o argônio sólido cristaliza em estrutura cúbica de face centrada com densidade de 1,65 g/cm³. A entalpia de vaporização equivale a 6,447 kJ/mol, e a entalpia de fusão mede 1,18 kJ/mol, indicando forças atrativas intermoleculares moderadas suficientes para estabilidade de fases condensadas, mas insuficientes para ligações químicas fortes.
A condutividade térmica do argônio gasoso mede 17,72 mW/(m·K) a 300 K, significativamente menor que a de gases diatômicos devido à ausência de mecanismos de transferência energética rotacionais e vibracionais. Essa propriedade é vantajosa em aplicações de isolamento térmico e processos industriais de alta temperatura que exigem retenção de calor.
Propriedades Químicas e Reatividade
Estrutura Eletrônica e Comportamento de Ligação
A configuração eletrônica [Ne]3s²3p⁶ estabelece a inércia química fundamental do argônio através do preenchimento completo da camada de valência, eliminando caminhos energeticamente favoráveis para reações convencionais de compartilhamento ou transferência eletrônica. A distribuição esfericamente simétrica dos elétrons 3p⁶ maximiza as interações atrativas núcleo-elétron enquanto minimiza repulsões eletrônicas, criando uma configuração eletrônica excepcionalmente estável.
Cálculos teóricos demonstram que a formação de compostos de argônio requer superar barreiras de ativação substanciais associadas à perturbação da configuração fechada. A ausência de orbitais d vazios na região de valência restringe ainda mais as possibilidades de ligação, impedindo mecanismos de hibridização e promoção eletrônica que permitem formação de compostos em metais de transição e elementos principais de períodos superiores.
Em condições extremas, o argônio pode participar na formação de compostos fracamente ligados através de mecanismos envolvendo transferência de carga, interação covalente com elementos altamente eletronegativos ou estabilização em matrizes isolantes. O composto fluoreto de argônio hidreto (HArF) representa o composto de argônio mais bem caracterizado, formado por fotólise do fluoreto de hidrogênio em matrizes de argônio sólido abaixo de 17 K. Este composto apresenta comprimento de ligação Ar-H de 1,27 Å, demonstrando que o argônio pode atuar como doador de elétrons em ambientes altamente polarizados.
A formação iônica ocorre prontamente sob condições de alta energia, com Ar⁺ sendo a espécie iônica mais comum. O íon argônio hidreto ArH⁺ foi detectado em meios interestelares, especificamente no remanescente da supernova Nebulosa do Caranguejo, marcando a primeira identificação de um íon molecular de gás nobre no espaço. Essas espécies iônicas demonstram a capacidade do argônio para interação química quando energia suficiente supera a estabilidade da configuração fechada.
Propriedades Eletroquímicas e Termodinâmicas
Valores de eletronegatividade permanecem indefinidos para o argônio em escalas convencionais devido à ausência de compostos covalentes estáveis em condições normais. Cálculos teóricos sugerem eletronegatividade próxima a 3,2 na escala Pauling, indicando capacidade moderada de atração eletrônica quando forçado a combinar-se quimicamente.
A primeira energia de ionização de 1520,6 kJ/mol reflete a energia substancial necessária para remover um elétron da configuração 3p⁶ estável, enquanto as energias subsequentes aumentam dramaticamente: segunda energia de ionização 2665,8 kJ/mol, terceira 3931 kJ/mol. Este padrão demonstra a estabilidade excepcional da configuração fechada e a dificuldade crescente de remoção de elétrons de camadas mais internas.
Medidas de afinidade eletrônica indicam que o argônio praticamente não apresenta afinidade eletrônica (-96 kJ/mol), confirmando a instabilidade termodinâmica de espécies aniônicas. Esta afinidade negativa reflete o custo energético de adicionar elétrons a uma camada de valência já completa, onde elétrons adicionais devem ocupar orbitais antibonding de maior energia.
Potenciais de redução padrão das espécies iônicas do argônio mostram valores altamente positivos: Ar⁺ + e⁻ → Ar, E° = -15,76 V, indicando caráter oxidante extremo dos cátions de argônio e favorabilidade termodinâmica da adição de elétrons para restaurar o estado fundamental neutro. Estes valores enfatizam o custo energético associado à perturbação da configuração fechada do argônio.
Compostos Químicos e Formação de Complexos
Compostos Binários e Ternários
Compostos de argônio estáveis permanecem extremamente limitados, com o fluoreto de argônio hidreto (HArF) sendo o principal exemplo de molécula neutra contendo argônio estável em condições laboratoriais acessíveis. Este composto forma-se por fotólise ultravioleta do fluoreto de hidrogênio em matrizes de argônio sólido a temperaturas abaixo de 17 K, onde o ambiente de baixa temperatura estabiliza a ligação Ar-H termicamente instável.
A molécula HArF exibe geometria linear com comprimento de ligação Ar-H de 1,274 Å e H-F de 0,958 Å. Espectroscopia vibracional revela frequência de estiramento Ar-H em 1950 cm⁻¹ e H-F em 4037 cm⁻¹, confirmando a natureza covalente das duas ligações. A energia de ligação da interação Ar-H mede aproximadamente 130 kJ/mol, suficiente para manter a integridade molecular em temperaturas criogênicas, mas insuficiente para estabilidade à temperatura ambiente.
Cálculos teóricos predizem a existência de compostos metastáveis adicionais, incluindo HArCl, HArBr e potencialmente HArI, seguindo mecanismos similares com estabilidade decrescente progressivamente ao longo da série dos halógenos. Estes compostos ainda não foram sintetizados experimentalmente, mas representam alvos para estudos de isolamento em matrizes de baixa temperatura.
Compostos binários com outros gases nobres permanecem puramente teóricos, pois as interações de van der Waals fracas entre átomos de camadas fechadas não fornecem energia de ligação suficiente para formação molecular estável. Aglomerados mistos de gases nobres Ar_n·Xe_m podem ser formados em expansões moleculares supersônicas, mas possuem energias de ligação da ordem da energia térmica em temperaturas muito baixas.
Química de Coordenação e Compostos Organometálicos
Complexos de coordenação com argônio representam uma classe especializada de compostos onde o argônio atua como ligante fracamente ligado em ambientes de matriz de baixa temperatura. O complexo W(CO)₅Ar foi um dos primeiros compostos de coordenação com argônio relatados, formado por dissociação fotoquímica do CO no hexacarbonilo de tungstênio em matrizes de argônio sólido. A interação Ar-W apresenta energia de ligação de aproximadamente 10 kJ/mol, característica de ligação covalente coordenada fraca.
Técnicas de isolamento em matriz permitem formação de diversos complexos metálicos transitórios com argônio através da dissociação fotoquímica de precursores carbônicos ou organometálicos em ambientes ricos em argônio. Estes complexos geralmente exibem comprimentos de ligação Ar-metal superiores a 2,5 Å e frequências vibracionais abaixo de 200 cm⁻¹ para modos de estiramento metal-argônio, confirmando a natureza fraca da interação de coordenação.
Estudos teóricos predizem maior estabilidade para complexos de argônio com centros metálicos altamente eletrofílicos, particularmente em estados de oxidação elevados onde o metal deficiente em elétrons pode interagir mais eficazmente com a densidade eletrônica do argônio. Contudo, estas predições aguardam verificação experimental sob condições apropriadas de matriz estabilizada a baixa temperatura.
O díon metastável ArCF₂²⁺ foi observado em estudos espectrométricos, demonstrando a capacidade do argônio de incorporar-se a espécies altamente carregadas sob condições extremas de ionização. Esta espécie exibe estabilidade notável na fase gasosa, sugerindo potencial para formar compostos tipo sal com contra-íons adequados.
Ocorrência Natural e Análise Isotópica
Distribuição e Abundância Geoquímicas
O argônio constitui 0,934% do volume e 1,288% da massa da atmosfera terrestre, sendo o terceiro gás atmosférico mais abundante após o nitrogênio e oxigênio. Esta abundância excede significativamente a de outros gases nobres: hélio (5,24 ppm), neônio (18,18 ppm), criptônio (1,14 ppm) e xenônio (0,087 ppm), refletindo mecanismos geoquímicos únicos de acumulação do argônio.
A abundância crustal média é de 1,2 ppm em massa, enquanto a água do mar contém aproximadamente 0,45 ppm de argônio. Estas concentrações refletem o particionamento em equilíbrio entre reservatórios atmosféricos, hidrosféricos e litosféricos, com o argônio atmosférico representando o maior reservatório terrestre devido à produção radiogênica contínua e retenção atmosférica ao longo do tempo geológico.
O predomínio do argônio atmosférico origina-se do decaimento radiogênico de ⁴⁰K no interior da Terra, onde processos de captura eletrônica e emissão de pósitron convertem potássio-40 em argônio-40 com meia-vida de 1,25 × 10⁹ anos. Esta via de decaimento produz aproximadamente 11,2% de ⁴⁰Ar e 88,8% de ⁴⁰Ca, com o produto gasoso migrando para a atmosfera ao longo de escalas geológicas.
A degasificação vulcânica constitui o mecanismo principal de liberação do argônio de reservatórios crustais e mantélicos, com emissões vulcânicas contendo concentrações elevadas de ⁴⁰Ar resultantes do decaimento prolongado do potássio em regiões fonte de magma. Basaltos de dorsais meso-oceânicas exibem razões ⁴⁰Ar/³⁶Ar menores que rochas vulcânicas continentais, indicando tempos de residência mais curtos em ambientes crustais ricos em potássio.
Propriedades Nucleares e Composição Isotópica
O argônio terrestre apresenta assinatura isotópica distinta dominada pelo isótopo radiogênico ⁴⁰Ar (99,603%), com contribuições menores de ³⁶Ar (0,337%) e ³⁸Ar (0,060%). Esta composição contrasta fortemente com as abundâncias no sistema solar, onde ³⁶Ar predomina como produto primário da nucleossíntese estelar durante a queima de silício em estrelas massivas.
⁴⁰Ar apresenta spin nuclear I = 0 e momento magnético μ = 0, simplificando aplicações de ressonância magnética nuclear e paramagnetismo eletrônico. O núcleo contém 18 prótons e 22 nêutrons em configuração duplamente mágica (18 e 20 são números mágicos), contribuindo para estabilidade nuclear excepcional. A energia de ligação por nucleão mede 8,52 MeV, refletindo forte coesão nuclear.
³⁹Ar representa um isótopo cosmogênico produzido por interações de raios cósmicos com ⁴⁰Ar atmosférico via reações (n,2n) e com ³⁹K via reações (n,p). O isótopo apresenta meia-vida de 269 anos através do decaimento beta para ³⁹K, mantendo concentrações atmosféricas em estado estacionário de aproximadamente 8 × 10⁻¹⁶ fração molar. Este isótopo serve como traçador valioso para datação de águas subterrâneas e estudos de circulação oceânica em escalas centenárias.
³⁷Ar forma-se por ativação neutrônica de ⁴⁰Ca durante testes de armas nucleares, fornecendo indicador sensível de atividade nuclear antrópica. A meia-vida de 35 dias permite detecção de eventos nucleares recentes enquanto decai rapidamente para níveis de fundo. As seções de captura neutrônica térmica medem 0,66 barns para ³⁶Ar e 5,0 barns para ⁴⁰Ar, facilitando aplicações de análise por ativação neutrônica.
Produção Industrial e Aplicações Tecnológicas
Métodos de Extração e Purificação
A produção industrial de argônio depende exclusivamente da destilação fracionada criogênica do ar líquido, explorando as volatilidades diferenciais dos componentes atmosféricos. O processo inicia com compressão e purificação do ar para remover dióxido de carbono, vapor d'água e contaminantes traço, seguido de resfriamento a temperaturas criogênicas onde os gases condensam em pontos de ebulição característicos.
A sequência de destilação separa primeiro o nitrogênio (p.e. 77,3 K), seguido pelo argônio (p.e. 87,3 K) e finalmente pelo oxigênio (p.e. 90,2 K). A concentração do argônio ocorre na fração inferior da coluna de baixa pressão, onde misturas argônio-oxigênio são separadas em colunas dedicadas com razões de refluxo otimizadas para atingir especificações comerciais de pureza.
A produção de argônio de alta pureza emprega etapas adicionais de purificação incluindo remoção catalítica de oxigênio por combustão com hidrogênio sobre catalisadores de platina, adsorção com peneiras moleculares para eliminação de umidade residual e tratamento com carvão ativado para remoção de hidrocarbonetos. Estes processos alcançam purezas superiores a 99,999% para aplicações especializadas que exigem atmosferas inertes ultrapuras.
A produção global de argônio excede 700.000 toneladas anuais, com grandes instalações concentradas em regiões com infraestrutura de separação de ar em escala industrial para sustentar indústrias siderúrgicas, químicas e eletrônicas. Fatores econômicos favorecem a integração com instalações de oxigênio e nitrogênio, otimizando utilização de equipamentos e eficiência energética em múltiplas linhas de produção.
Aplicações Tecnológicas e Perspectivas Futuras
As aplicações em soldagem e metalurgia representam o setor de maior consumo de argônio, explorando sua atmosfera inerte para metais reativos como alumínio, titânio e aço inoxidável. As soldagens TIG (tungstênio com gás inerte) e MIG (metal com gás inerte) utilizam argônio como gás de proteção para prevenir oxidação e nitretação de poças de solda em altas temperaturas, assegurando formação de juntas de alta qualidade.
A fabricação de semicondutores emprega argônio ultrapuro em operações de crescimento cristalino, especialmente para produção de cristais únicos de silício e germânio onde o controle de contaminação exige pureza excepcional. As atmosferas argônio previnem dopagem indesejada e permitem controle preciso das propriedades elétricas em dispositivos semicondutores acabados.
Aplicações científicas utilizam argônio líquido como meio de detecção em experimentos de física de neutrinos e buscas por matéria escura. A alta emissão de luz cintilante (51 fótons/keV), transparência à própria luz cintilante e características temporais distintas permitem discriminação entre sinais e eventos de fundo em instalações subterrâneas. Grandes experimentos como ICARUS, MicroBooNE e DarkSide dependem de alvos de argônio líquido de múltiplas toneladas para detecção de eventos raros.
Aplicações de preservação exploram a maior densidade do argônio em relação ao ar e sua inércia química em embalagens de alimentos, armazenamento farmacêutico e conservação arquivística. Os Arquivos Nacionais dos EUA utilizam atmosferas argônio para preservar a Declaração de Independência e a Constituição, substituindo o hélio devido às melhores propriedades de contenção e menores taxas de permeação através de materiais de armazenamento.
Aplicações emergentes incluem etching por feixe iônico de argônio em microfabricação, processamento de superfícies com plasma argônio e coagulação aprimorada com argônio em procedimentos médicos. Desenvolvimentos futuros podem expandir o uso do argônio em sistemas de propulsão espacial, aproveitando seu alto peso molecular e características de ionização para aplicações em propulsão elétrica.
Desenvolvimento Histórico e Descoberta
A descoberta do argônio emergiu de medições minuciosas de densidade conduzidas por Lord Rayleigh, que observou que o nitrogênio atmosférico apresentava densidade consistentemente maior que o nitrogênio obtido por decomposição química de amônia ou óxido nitroso. A discrepância de 0,5%, embora aparentemente menor, revelou-se suficientemente significativa para investigação extensiva quando reprodutível em múltiplas abordagens experimentais.
Os experimentos proféticos de Henry Cavendish em 1785 forneceram precedente crucial, demonstrando que centelhamento elétrico podia remover a maior parte do nitrogênio e oxigênio do ar, deixando uma fração residual resistente a tratamentos químicos adicionais. Cavendish estimou que este gás residual compreendia "não mais que 1/120 do total", notavelmente próximo à abundância atmosférica real de 0,934%.
O isolamento sistemático alcançado por Lord Rayleigh e Sir William Ramsay em 1894 empregou descarga elétrica através do ar sobre solução de hidróxido de potássio, removendo progressivamente óxidos de nitrogênio e dióxido de carbono enquanto monitorava redução volumétrica. Os espectros do gás residual apresentavam linhas espectroscópicas não correspondentes a elemento conhecido, levando à caracterização extensiva que confirmou a presença de constituinte atmosférico desconhecido.
A inicial ceticismo da comunidade científica concentrou-se na aparente violação da lei periódica de Mendeleev, pois seu peso atômico excedia o do potássio apesar de sua inércia química. Este paradoxo só se resolveu com a demonstração de Henry Moseley de que o número atômico, e não o peso atômico, governa o comportamento periódico, estabelecendo o princípio organizador fundamental da classificação periódica moderna.
O reconhecimento com o Prêmio Nobel dos dois descobridores – Rayleigh em Física (1904) e Ramsay em Química (1904) – reconheceu o impacto profundo da descoberta do argônio na teoria atômica e classificação periódica. A subsequente descoberta de outros gases nobres por Ramsay (hélio, neônio, criptônio e xenônio) em seis anos demonstrou a natureza sistemática desta nova família de elementos, revolucionando o entendimento da estrutura atômica e periodicidade química.
Conclusão
O argônio exemplifica as propriedades únicas decorrentes de configurações eletrônicas completas, demonstrando como a estrutura eletrônica governa comportamento químico e utilidade tecnológica. Sua combinação de abundância atmosférica, inércia química e propriedades físicas acessíveis estabelece o argônio como commodity industrial indispensável, enquanto fornece insights fundamentais sobre estrutura atômica e princípios de ligação química.
A origem radiogênica do argônio terrestre ilumina processos de evolução planetária e fornece ferramentas poderosas para análise geocronológica, enquanto descobertas recentes de compostos metastáveis desafiam conceitos tradicionais de reatividade dos gases nobres. Direções futuras de pesquisa podem explorar vias sintéticas sob alta pressão para compostos estáveis, investigar o papel do argônio em fases de matéria exótica e desenvolver novas aplicações tecnológicas que aproveitem sua combinação única de propriedades. Sua importância contínua em pesquisa fundamental e aplicações industriais garante ao argônio relevância duradoura no avanço do conhecimento químico e inovação tecnológica.

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