Elemento | |
---|---|
34SeSelênio78.9632
8 18 6 |
![]() |
Propriedades básicas | |
---|---|
Número atômico | 34 |
Massa atômica | 78.963 amu |
Família de elementos | Não-metais |
Período | 4 |
Grupo | 16 |
Bloquear | p-block |
Ano de descoberta | 1817 |
Distribuição de isótopos |
---|
74Se 0.9% 76Se 9.0% 77Se 7.6% 78Se 23.5% 80Se 49.6% |
74Se (0.99%) 76Se (9.93%) 77Se (8.39%) 78Se (25.94%) 80Se (54.75%) |
Propriedades físicas | |
---|---|
Densidade | 4.809 g/cm3 (STP) |
(H) 8.988E-5 Meitnério (Mt) 28 | |
Fusão | 221 °C |
Hélio (He) -272.2 Carbono (C) 3675 | |
Ebulição | 685 °C |
Hélio (He) -268.9 Tungstênio (W) 5927 |
Propriedades químicas | |
---|---|
Estados de oxidação (menos comum) | -2, +2, +4, +6 (-1, 0, +1, +3, +5) |
Potencial da primeira ionização | 9.753 eV |
Césio (Cs) 3.894 Hélio (He) 24.587 | |
Afinidade eletrônica | 2.021 eV |
Nobélio (No) -2.33 (Cl) 3.612725 | |
Eletro-negatividade | 2.55 |
Césio (Cs) 0.79 (F) 3.98 |
Raio atômico | |
---|---|
Raio covalente | 1.16 Å |
(H) 0.32 Francium (Fr) 2.6 | |
Van der Waals raio | 1.9 Å |
(H) 1.2 Francium (Fr) 3.48 | |
Compostos | ||
---|---|---|
Fórmula | Nome | Estado de oxidação |
H2Se | Seleneto de hidrogênio | -2 |
CdSe | Seleneto de cádmio | -2 |
ZnSe | Seleneto de zinco | -2 |
MnSe2 | Disseleneto de manganês | -1 |
C3H7NO2Se | Selenocisteína | +1 |
Se2Cl2 | Monocloreto de selênio | +1 |
Se2S6 | Hexassulfeto de selênio | +1 |
SeCl2 | Dicloreto de selênio | +2 |
SeO2 | Dióxido de selênio | +4 |
H2SeO3 | Ácido selenioso | +4 |
H2SeO4 | Ácido selênico | +6 |
SeO3 | Trióxido de selênio | +6 |
Propriedades eletrônicas | |
---|---|
Elétrons por camada | 2, 8, 18, 6 |
Configuração eletrônica | [Ar] 3d10 |
Modelo de átomo de Bohr
| |
Diagrama de caixa orbital
| |
Elétrons de valência | 6 |
Estrutura de pontos de Lewis |
|
Visualização Orbital | |
---|---|
| |
Elétrons | - |
Selênio (Se): Elemento da Tabela Periódica
Resumo
O selênio, número atômico 34, representa um elemento crítico no grupo 16 da tabela periódica, exibindo propriedades químicas distintas que ponteiam o comportamento metálico e não-metálico. Com peso atômico padrão de 78,971 ± 0,008 u, o selênio manifesta múltiplas formas alotrópicas, incluindo estruturas cinza hexagonais, vermelho monoclínicas e pretas amorfas. O elemento demonstra estados de oxidação variáveis de −2 a +6, sendo +4 e +6 os mais prevalentes em aplicações tecnológicas. Sua configuração eletrônica [Ar] 3d¹⁰ 4s² 4p⁴ confere propriedades de fotocondutividade únicas, tornando-o indispensável na tecnologia de semicondutores, células fotovoltaicas e processos xerográficos. As aplicações industriais vão desde a produção de retificadores até a fabricação de vidros especializados, enquanto tecnologias emergentes utilizam selênio em pontos quânticos e dispositivos fotônicos avançados. O elemento ocorre naturalmente em aproximadamente 0,05 mg/kg na crosta terrestre, principalmente associado a depósitos de minério sulfetado. Existem cinco isótopos estáveis, com ⁷⁸Se compreendendo 23,77% de abundância natural e apresentando as propriedades nucleares mais significativas para aplicações tecnológicas.
Introdução
O selênio ocupa a posição 34 na tabela periódica dentro do grupo 16 (calcógenos), situado entre o enxofre e o telúrio na família do oxigênio. O elemento exibe propriedades intermediárias entre não-metais e metaloides, demonstrando comportamento característico de semicondutor que o distingue dos calcógenos mais leves. Sua configuração eletrônica [Ar] 3d¹⁰ 4s² 4p⁴ posiciona o selênio no quarto período com quatro elétrons desemparelhados no orbital p externo, estabelecendo a base para seus diversos padrões de reatividade química.
A importância do elemento na química moderna deriva de suas propriedades de fotocondutividade únicas, onde a condutividade elétrica aumenta dramaticamente sob iluminação. Este fenômeno, observado sistematicamente no final do século XIX, estabeleceu o selênio como material pioneiro em aplicações fotoelétricas. A química industrial contemporânea utiliza as propriedades do selênio na fabricação de retificadores, metalurgia especializada e aplicações em semicondutores onde o controle preciso das propriedades eletrônicas é essencial.
A descoberta do selênio por Jöns Jacob Berzelius em 1817 marcou um avanço significativo na química analítica, pois representou um dos primeiros elementos identificados por meio de análise química sistemática de resíduos industriais. O nome do elemento deriva da palavra grega "selene", significando lua, refletindo a crença inicial de Berzelius de ter descoberto o telúrio, nomeado a partir do latim "tellus" para terra. O desenvolvimento histórico da química do selênio acompanhou avanços na física do estado sólido e ciência dos materiais, estabelecendo-o como fundamental à tecnologia eletrônica moderna.
Propriedades Físicas e Estrutura Atômica
Parâmetros Atômicos Fundamentais
O selênio apresenta número atômico 34 com configuração eletrônica [Ar] 3d¹⁰ 4s² 4p⁴, posicionando-o no grupo dos calcógenos com seis elétrons de valência. O raio atômico mede 120 pm, enquanto o raio covalente estende-se a 120 pm e o raio iônico varia de 50 pm para Se⁶⁺ a 198 pm para Se²⁻. Esses parâmetros radiais refletem a posição intermediária do selênio entre o enxofre (raio atômico 100 pm) e o telúrio (raio atômico 140 pm), demonstrando tendências periódicas características no grupo 16.
A carga nuclear efetiva experimentada pelos elétrons de valência aproxima-se de 6,04, explicando os efeitos de blindagem orbital d que distinguem o selênio dos calcógenos mais leves. A primeira energia de ionização mede 941,0 kJ/mol, substancialmente menor que a do enxofre (999,6 kJ/mol), enquanto as energias de ionização subsequentes aumentam para 2045 kJ/mol (segunda) e 2973,7 kJ/mol (terceira). A afinidade eletrônica apresenta valor de 195,0 kJ/mol, indicando tendência moderada para aceitação de elétrons e formação de ânions.
A eletronegatividade do selênio registra 2,55 na escala de Pauling, posicionando-o entre o enxofre (2,58) e o telúrio (2,1). Essa eletronegatividade intermediária facilita a formação de compostos iônicos e covalentes, dependendo da natureza dos parceiros de ligação. O selênio tipicamente exibe estados de oxidação de −2, +2, +4 e +6, com +4 e +6 sendo os mais comuns em compostos estáveis sob condições padrão.
Características Físicas Macroscópicas
O selênio manifesta múltiplas formas alotrópicas com propriedades físicas e arranjos estruturais distintos. O selênio hexagonal cinza, a forma termodinamicamente estável sob condições padrão, cristaliza no sistema cristalino hexagonal com parâmetros de rede a = 4,3662 Å e c = 4,9536 Å. Esta alotrópia exibe aparência metálica com densidade 4,81 g/cm³ e demonstra propriedades de semicondutor com energia de banda proibida de aproximadamente 1,74 eV.
O selênio monoclínico vermelho forma-se através do resfriamento rápido da fase líquida, exibindo coloração vermelha intensa e densidade 4,46 g/cm³. A estrutura cristalina contém moléculas cíclicas Se₈ dispostas em uma rede monoclínica com grupo espacial P2₁/n. O selênio amorfo preto, obtido por precipitação química ou resfriamento rápido, carece de ordem de longo alcance e apresenta densidade 4,28 g/cm³. Esta forma demonstra fotocondutividade superior comparada às modificações cristalinas, tornando-a particularmente valiosa em aplicações xerográficas.
As propriedades térmicas incluem ponto de fusão de 221,0°C e ponto de ebulição de 685,0°C, indicando volatilidade moderada comparada a outros elementos do grupo 16. O calor de fusão mede 6,69 kJ/mol, enquanto o calor de vaporização atinge 95,48 kJ/mol. A capacidade térmica específica a pressão constante equivale a 0,321 J/(g·K) a 25°C. O coeficiente de expansão térmica mede 3,7 × 10⁻⁵ K⁻¹, e a condutividade térmica equivale a 0,52 W/(m·K) à temperatura ambiente.
A resistividade elétrica varia dramaticamente com a forma alotrópica e as condições de iluminação. O selênio cinza exibe resistividade de aproximadamente 10⁻³ Ω·m no escuro, diminuindo várias ordens de magnitude sob iluminação. Este fenômeno de fotocondutividade resulta da promoção induzida pela luz de elétrons das bandas de valência para as de condução, criando pares elétron-lacuna que aumentam a condutividade elétrica.
Propriedades Químicas e Reatividade
Estrutura Eletrônica e Comportamento de Ligação
A configuração eletrônica do selênio [Ar] 3d¹⁰ 4s² 4p⁴ estabelece a base para seu comportamento químico, com quatro elétrons no subnível p externo criando potencial para diversas arranjos de ligação. O elemento forma ligações covalentes prontamente através de hibridização sp³ em compostos como H₂Se e selenetos orgânicos, enquanto estados de oxidação mais altos envolvem participação orbital d por meio de configurações de camada de valência expandida.
No estado de oxidação −2, o selênio exibe geometria tetraédrica em torno dos parceiros de ligação, similar a compostos de enxofre, mas com comprimentos de ligação mais longos refletindo o maior raio atômico. O comprimento típico da ligação Se-H mede 146 pm comparado a 134 pm para ligações S-H, enquanto ligações Se-C variam de 194-198 pm dependendo do estado de hibridização do carbono. As energias de dissociação de ligação para ligações Se-H (334 kJ/mol) e Se-C (272 kJ/mol) são consistentemente menores que as correspondentes ligações de enxofre.
Compostos de selênio no estado de oxidação +4 comumente adotam geometrias piramidais quadradas ou octaédricas por meio de hibridização sp³d ou sp³d². O dióxido de selênio (SeO₂) demonstra geometria molecular angular com comprimento de ligação Se-O de 161 pm e ângulo de ligação O-Se-O de 113°. O estado de oxidação +6 aparece em compostos de selenato onde o selênio adota coordenação tetraédrica com comprimentos de ligação Se-O de aproximadamente 162 pm.
A química de coordenação revela a capacidade do selênio de formar complexos estáveis com metais de transição, particularmente em ambientes de doadores moles. Os ligantes seleneto demonstram maior doação π comparados aos análogos sulfeto, resultando em maior covalência nas ligações metal-selênio. Os compostos organoselênicos exibem motivos estruturais diversos, incluindo selenoéteres, selenoésteres e disselenetos com comprimento de ligação Se-Se característico de 233-237 pm.
Propriedades Eletroquímicas e Termodinâmicas
Os valores de eletronegatividade do selênio abrangem 2,55 (Pauling), 2,51 (Mulliken) e 2,42 (Allred-Rochow), refletindo capacidade moderada de atração de elétrons intermediária entre o enxofre e o telúrio. Esses valores correlacionam-se com a tendência do selênio de formar ligações covalentes polares com elementos eletropositivos enquanto mantém caráter iônico com metais altamente eletropositivos.
Os potenciais de redução padrão demonstram a versatilidade redox do selênio em múltiplos estados de oxidação. O par SeO₄²⁻/Se exibe E° = +1,15 V, enquanto Se/Se²⁻ mostra E° = -0,924 V. Pares intermediários incluem SeO₃²⁻/Se (E° = +0,74 V) e H₂SeO₃/Se (E° = +0,74 V em solução ácida). Esses potenciais indicam poder moderado de oxidação nos estados de oxidação mais altos e comportamento redutor ao ser convertido em seleneto.
As energias de ionização sucessivas revelam requisitos crescentes de energia: primeira ionização 941,0 kJ/mol, segunda 2045 kJ/mol, terceira 2973,7 kJ/mol, quarta 4144 kJ/mol, quinta 6590 kJ/mol e sexta 7880 kJ/mol. O grande aumento entre a segunda e terceira ionizações reflete a estabilidade da configuração Se²⁺, enquanto os aumentos subsequentes indicam remoção progressiva de elétrons de camadas internas.
A estabilidade termodinâmica dos compostos de selênio varia consideravelmente com o estado de oxidação e ambiente químico. Os selenetos geralmente exibem entalpias de formação negativas, com o seleneto de hidrogênio (H₂Se) mostrando ΔH°f = +29,7 kJ/mol, indicando instabilidade termodinâmica em relação aos elementos constituintes. O dióxido de selênio demonstra ΔH°f = -225,4 kJ/mol, refletindo estabilidade no estado de oxidação +4 sob condições oxidantes.
Compostos Químicos e Formação de Complexos
Compostos Binários e Ternários
O selênio forma uma série abrangente de compostos binários em múltiplos estados de oxidação, com os selenetos representando a categoria mais extensa. O seleneto de hidrogênio (H₂Se) exibe instabilidade termodinâmica com entalpia de formação positiva (+29,7 kJ/mol), decompondo-se prontamente acima de 150°C nos elementos constituintes. O composto demonstra comportamento ácido em solução aquosa com pKa₁ = 3,89 e pKa₂ = 11,0, intermediário entre o sulfeto de hidrogênio e o telúrido de hidrogênio.
Os selenetos metálicos abrangem diversos tipos estruturais, desde compostos iônicos simples até redes covalentes complexas. Os selenetos de metais alcalinos adotam estruturas antifluoretas com caráter predominantemente iônico, enquanto os selenetos de metais de transição exibem estruturas laminares ou tridimensionais com contribuições covalentes significativas. O disseleneto de ferro (FeSe₂) cristaliza no tipo estrutural pirita, demonstrando propriedades de semicondutor valiosas em aplicações termoelétricas.
Os óxidos de selênio incluem dióxido de selênio (SeO₂) e trióxido de selênio (SeO₃), ambos exibindo propriedades estruturais e químicas distintas. O dióxido de selênio forma estruturas em cadeia no estado sólido com átomos de oxigênio em ponte, sublimando a 317°C para produzir moléculas monoméricas na fase gasosa. O composto demonstra propriedades oxidantes fortes e atua como reagente versátil na química orgânica do selênio.
Os compostos de halógenos com selênio abrangem estados de oxidação de +2 a +6, com o tetrafluoreto de selênio (SeF₄) e o hexafluoreto de selênio (SeF₆) sendo particularmente significativos. O SeF₄ adota geometria piramidal quadrada devido à influência do par solitário, enquanto o SeF₆ exibe estrutura octaédrica regular. Esses compostos demonstram alta reatividade com umidade e atuam como agentes fluoretantes em aplicações sintéticas especializadas.
Os compostos ternários incluem selenatos, selenitos e calcogenetos complexos com importância tecnológica. O selenato de sódio (Na₂SeO₄) e o selenito de sódio (Na₂SeO₃) servem como fontes de selênio na química analítica e síntese de materiais. Selenetos complexos como Cu₂Se e Ag₂Se demonstram condutividade superiônica a temperaturas elevadas, encontrando aplicações em dispositivos eletroquímicos de estado sólido.
Química de Coordenação e Compostos Organometálicos
A química de coordenação do selênio abrange diversos ambientes de ligantes onde o selênio atua tanto como átomo central quanto como espécie coordenante. Como ligante, o selênio geralmente ocupa posições de doadores moles em complexos com metais de transição tardios, formando ligações estáveis através de interações σ-doação e π-retrodoação. Os complexos de seleneto demonstram maior covalência comparados aos análogos sulfeto, resultando em maior estabilidade termodinâmica e propriedades eletrônicas alteradas.
As geometrias de coordenação ao redor dos centros de selênio refletem a configuração eletrônica e os requisitos dos ligantes. Compostos de selênio(IV) comumente adotam arranjos piramidais quadrados ou octaédricos, enquanto espécies de selênio(VI) preferem coordenação tetraédrica. Compostos de valência mista contendo múltiplos estados de oxidação do selênio exibem estruturas eletrônicas complexas com potencial para propriedades magnéticas e ópticas incomuns.
A química organoselênica representa um campo em rápido crescimento abrangendo selenoéteres, selenoésteres, selenoamidas e catalisadores organoselênicos. O disseleneto de difenila (Ph₂Se₂) atua como reagente versátil para incorporação de selênio em estruturas orgânicas, enquanto a selenocisteína funciona como o 21º aminoácido em certos sistemas biológicos. Os compostos organoselênicos demonstram padrões de reatividade únicos, incluindo formação/cisão fácil da ligação Se-Se e comportamento redox-ativo.
Heterociclos contendo selênio incluem selenofenos, selenazóis e benzoselenofenos, que exibem propriedades eletrônicas distintas dos análogos com enxofre e oxigênio. Esses compostos encontram aplicações em eletrônica orgânica, química farmacêutica e ciência dos materiais, onde as propriedades únicas do selênio aprimoram a funcionalidade molecular. Sistemas cíclicos contendo selênio geralmente demonstram aromaticidade reduzida comparada aos análogos tiofeno, mas maior polarizabilidade e características de transferência de carga.
Ocorrência Natural e Análise Isotópica
Distribuição e Abundância Geoquímicas
O selênio exibe abundância crustal de aproximadamente 0,05 mg/kg (50 ppb), ocupando a 69ª posição entre os elementos na distribuição terrestre. Esta baixa abundância reflete o caráter calcófilo do selênio e sua tendência de concentrar-se em ambientes ricos em sulfetos em vez de matrizes silicatadas que compõem a maior parte do material crustal. Seu comportamento geoquímico paralela-se ao do enxofre, levando à co-ocorrência em depósitos de minério sulfetado e emissões vulcânicas.
As concentrações primárias de selênio ocorrem em ambientes sedimentares onde condições redutoras promovem formação e acumulação de selenetos. Formações de xisto geralmente contêm 0,5-2,0 mg/kg de selênio, enquanto depósitos de carvão variam de 0,2-10 mg/kg dependendo da fonte geológica e condições de formação. Depósitos de rocha fosfática ocasionalmente contêm níveis elevados de selênio (10-300 mg/kg) através de processos de concentração biogênicos.
A distribuição do selênio em rochas ígneas correlaciona-se inversamente com o conteúdo de sílica, com rochas máficas e ultramáficas contendo concentrações mais altas (0,1-0,2 mg/kg) comparadas às composições félsicas (0,01-0,05 mg/kg). Este padrão de distribuição reflete a afinidade do selênio por fases sulfetadas que se particionam preferencialmente em magmas básicos durante processos de diferenciação.
Ambientes hidrotermais concentram selênio através de mecanismos de transporte e precipitação de fluidos, criando depósitos economicamente viáveis associados à mineralização de sulfetos de metais básicos. Principais regiões produtoras de selênio incluem a Península de Keweenaw (Michigan), o distrito Mansfeld (Alemanha) e ambientes vulcânicos no Japão e Filipinas onde minerais selenetos atingem concentrações significativas.
Os sistemas marinhos mantêm concentrações dissolvidas de selênio de aproximadamente 0,15 μg/L, principalmente como selenato (SeO₄²⁻) em águas oxigenadas e selenito (SeO₃²⁻) em ambientes suboxigênios. A captação biológica por organismos marinhos cria enriquecimento localizado, enquanto sedimentos redutores atuam como sumidouros para acumulação de selênio através de processos de redução bacteriana de sulfato que simultaneamente reduzem espécies de selenato.
Propriedades Nucleares e Composição Isotópica
O selênio natural compreende cinco isótopos estáveis com números de massa 74, 76, 77, 78, 80 e 82, apresentando padrões distintos de abundância e propriedades nucleares. ⁸⁰Se representa o isótopo mais abundante com 49,61% de abundância natural, seguido por ⁷⁸Se (23,77%), ⁷⁶Se (9,37%), ⁸²Se (8,73%), ⁷⁷Se (7,63%) e ⁷⁴Se (0,89%). Essas abundâncias resultam de processos de nucleossíntese estelar, particularmente captura de nêutrons s-processo em estrelas da fase de gigante assintótica.
Os estados de spin nuclear variam entre os isótopos de selênio, com ⁷⁷Se exibindo spin nuclear I = 1/2 e momento magnético μ = +0,535 magnetons nucleares, tornando-o adequado para aplicações em espectroscopia NMR. ⁷⁹Se (isótopo artificial) possui I = 1/2 com momento magnético aprimorado, servindo como sonda em estudos estruturais de selenoproteínas e compostos organoselênicos. Isótopos de massa par exibem spin nuclear zero, simplificando análises espectroscópicas na caracterização de compostos.
Vários isótopos de selênio sofrem decaimento radioativo com meias-vidas variando de minutos a milhões de anos. ⁷⁵Se (t₁/₂ = 119,8 dias) sofre captura eletrônica para produzir ⁷⁵As, encontrando aplicações em imagem médica e terapia radiante. ⁸¹Se (t₁/₂ = 18,5 minutos) representa o isótopo artificial mais comumente produzido para pesquisa, decaindo por emissão β⁻ para o ⁸¹Br estável.
As seções de choque nuclear para absorção de nêutrons variam significativamente entre os isótopos de selênio, com seções de captura de nêutrons térmicos variando de 11,7 barns (⁷⁴Se) a 42 barns (⁷⁶Se). Esses valores influenciam cálculos de física de reatores e estratégias de produção isotópica para aplicações especializadas. Medidas de integrais de ressonância fornecem dados nucleares adicionais essenciais para cálculos de transporte de nêutrons em ambientes de reatores de pesquisa.
Estudos de decaimento beta duplo utilizam ⁸²Se como núcleo candidato para pesquisa de decaimento beta duplo sem neutrinos, potencialmente fornecendo insights sobre massa de neutrinos e conservação do número leptônico. Experimentos atuais alcançam sensibilidades de detecção suficientes para limitar modelos teóricos, enquanto tecnologias de detectores aprimoradas prometem maior precisão em medições de física fundamental.
Produção Industrial e Aplicações Tecnológicas
Métodos de Extração e Purificação
A produção industrial de selênio depende principalmente da recuperação de lodos anódicos no processo eletrolítico de refino de cobre, onde o selênio se acumula durante operações de eletrodeposição de cobre. Esses lodos tipicamente contêm 3-25% de selênio juntamente com metais preciosos e outras impurezas, exigindo técnicas sofisticadas de separação para alcançar níveis comerciais de pureza superiores a 99,5%.
O processo de extração inicia com a calcinação dos lodos anódicos a temperaturas de 500-600°C na presença de carbonato de sódio e atmosfera oxidante, convertendo selênio a selenito de sódio solúvel em água (Na₂SeO₃). A lixiviação com água seguida de precipitação seletiva remove cobre, chumbo e outros metais básicos, mantendo o selênio em solução para etapas subsequentes de recuperação.
A purificação emprega redução de soluções de selenito com gás dióxido de enxofre a pH 1-2, precipitando selênio elementar segundo a reação: H₂SeO₃ + 2SO₂ + H₂O → Se + 2H₂SO₄. Este processo alcança recuperação de 95-98% de selênio com pureza relativamente alta, embora purificação adicional remova traços de enxofre, arsênio e impurezas de telúrio.
A purificação final utiliza técnicas de destilação que exploram a volatilidade do selênio a temperaturas moderadas (ponto de ebulição 685°C). A destilação a vácuo a pressão reduzida permite separação a temperaturas mais baixas, minimizando decomposição térmica e alcançando graus de pureza ultralevados exigidos por aplicações em semicondutores. Métodos alternativos de purificação incluem refino por zonas e transporte por vapor químico para aplicações especializadas que requerem pureza extrema.
A produção global de selênio varia entre 2.000-2.500 toneladas métricas anualmente, com principais países produtores incluindo Japão, Bélgica, Rússia e Estados Unidos. A capacidade de produção permanece fortemente ligada às operações de refino de cobre, criando restrições de suprimento durante períodos de redução na produção de cobre. A volatilidade de preços reflete tanto limitações de suprimento quanto demanda crescente de aplicações tecnológicas emergentes.
Aplicações Tecnológicas e Perspectivas Futuras
As propriedades fotocondutivas únicas do selênio estabeleceram suas primeiras aplicações tecnológicas em fotocélulas, máquinas de cópia xerográficas e dispositivos retificadores. A xerografia moderna continua utilizando filmes de selênio amorfo por suas características superiores de retenção de carga e fotocondutividade, embora fotossensores orgânicos cresçam como alternativas em certos segmentos de mercado.
A tecnologia de semicondutores emprega selênio em aplicações especializadas onde seu band gap intermediário (1,74 eV) fornece propriedades eletrônicas ótimas. Filmes finos baseados em selênio atuam em células fotovoltaicas, particularmente em painéis solares de seleneto de cobre índio gálio (CIGS) que alcançam eficiência de conversão de energia superior a 23%. O semicondutor composto CuInSe₂ exibe características de band gap direto ideais para conversão eficiente de energia solar.
A fabricação de vidros utiliza selênio para aplicações de descoloração e coloração vermelho-rubim. Adições de selênio neutralizam a coloração verde induzida pelo ferro em vidros claros, enquanto concentrações controladas produzem vidros vermelho-rubim valorizados em aplicações artísticas e decorativas. Formulações de vidro óptico incorporam selênio para alcançar características específicas de índice de refração e dispersão.
Aplicações emergentes incluem a síntese de pontos quânticos onde nanopartículas de selênio demonstram propriedades ópticas dependentes do tamanho, valiosas em tecnologias de exibição e imagem biológica. Pontos quânticos CdSe exibem comprimento de onda de emissão ajustável por todo o espectro visível, habilitando tecnologias de exibição avançadas com reprodução de cor aprimorada e eficiência energética.
A pesquisa em materiais avançados explora compostos baseados em selênio para aplicações termoelétricas, onde a combinação de propriedades de semicondutor e características térmicas favoráveis permite recuperação eficiente de calor residual. O disseleneto de bismuto (Bi₂Se₃) e compostos relacionados demonstram figuras de mérito termoelétricas promissoras para geração e refrigeração de energia.
Perspectivas futuras de tecnologia abrangem dispositivos spintrônicos, cristais fotônicos avançados e arquiteturas de células solares de nova geração. A combinação única de propriedades de semicondutor, fotocondutividade e versatilidade química posiciona o selênio favoravelmente para tecnologias emergentes que requerem controle preciso de características eletrônicas e ópticas.
Desenvolvimento Histórico e Descoberta
A descoberta do selênio representa um momento pivotal na química analítica do século XIX, ilustrando a abordagem sistemática que caracterizou o método científico naquela época. Em 1817, Jöns Jacob Berzelius, trabalhando no Instituto Karolinska em Estocolmo, encontrou um resíduo inesperado ao analisar produção de ácido sulfúrico na fábrica Gripsholm. O resíduo, inicialmente considerado contaminação por telúrio, exibiu propriedades inexplicáveis com o conhecimento químico existente.
A investigação metódica de Berzelius revelou diferenças fundamentais entre esta nova substância e o telúrio, particularmente na coloração da chama, características de volatilidade e padrões de reatividade química. A comparação sistemática levou ao reconhecimento de um elemento previamente desconhecido, que Berzelius nomeou selênio a partir da palavra grega "selene" (lua), reconhecendo sua confusão inicial com o telúrio (nomeado a partir do latim "tellus" para terra). Esta descoberta demonstrou o poder da química analítica cuidadosa em revelar novos elementos através de investigação sistemática de processos industriais.
A caracterização química inicial durante 1820-1840 estabeleceu as propriedades básicas do selênio, incluindo suas múltiplas formas alotrópicas e estados de oxidação variáveis. Os químicos reconheceram a posição do selênio no que posteriormente se tornou o grupo dos calcógenos, notando similaridades com enxofre e telúrio enquanto identificavam características únicas que o distinguiram de elementos vizinhos. O desenvolvimento de métodos analíticos sistemáticos permitiu determinação quantitativa do peso atômico e proporções de combinação química.
O século XIX tardio testemunhou o reconhecimento das propriedades de fotocondutividade do selênio, começando com a observação de Willoughby Smith em 1873 da condutividade elétrica dependente da luz em resistores de selênio utilizados para testes de cabos submarinos. Esta descoberta lançou extensas pesquisas em fenômenos fotoelétricos, estabelecendo o selênio como o primeiro material fotocondutivo prático e lançando as bases para a tecnologia optoeletrônica moderna.
Aplicações industriais surgiram no início do século XX com o desenvolvimento de retificadores de selênio para conversão de energia elétrica e células fotoelétricas para medição e controle de luz. A invenção da cópia xerográfica por Chester Carlson em 1938 fundamentou-se nas propriedades fotocondutivas do selênio, criando uma importante aplicação comercial que persistiu por décadas. A Segunda Guerra Mundial acelerou a pesquisa em selênio para aplicações em eletrônica militar, particularmente em sistemas de radar e comunicação que exigiam componentes semicondutores confiáveis.
A química moderna do selênio desenvolveu-se paralelamente aos avanços na física do estado sólido e ciência dos materiais no período pós-guerra. Técnicas de caracterização sofisticadas revelaram compreensão detalhada da estrutura eletrônica, química cristalina e propriedades de superfície que possibilitaram o design racional de materiais baseados em selênio para aplicações específicas. Pesquisas contemporâneas continuam expandindo a química do selênio para nanotecnologia, biotecnologia e ciência avançada de materiais, mantendo sua relevância no desenvolvimento tecnológico de ponta.
Conclusão
O selênio ocupa posição única na tabela periódica que ponteia o comportamento não-metálico e semicondutor, exibindo propriedades que sustentaram relevância tecnológica desde os primeiros dispositivos fotoelétricos até aplicações contemporâneas em nanotecnologia. Sua configuração eletrônica [Ar] 3d¹⁰ 4s² 4p⁴ estabelece a base para fotocondutividade distinta, estados de oxidação variáveis e capacidade de formação de compostos diversos que o distinguem de outros membros da família dos calcógenos.
A relevância industrial deriva do papel insubstituível do selênio na tecnologia xerográfica, fabricação especializada de vidros e aplicações fotovoltaicas emergentes onde sua combinação única de propriedades eletrônicas e ópticas não pode ser facilmente substituída. Sua abundância moderada e metodologias de extração estabelecidas garantem disponibilidade contínua para aplicações tecnológicas, enquanto pesquisas em andamento expandem o entendimento da química do selênio em pontos quânticos, semicondutores avançados e aplicações em ciência de materiais.
As direções futuras de pesquisa abrangem aplicações spintrônicas, materiais termoelétricos avançados e arquiteturas de células solares de nova geração onde as propriedades do selênio podem habilitar tecnologias revolucionárias. A versatilidade do elemento em formar compostos estáveis em múltiplos estados de oxidação, combinada com suas propriedades nucleares favoráveis para estudos isotópicos, posiciona o selênio como sujeito contínuo de pesquisa fundamental e aplicada em química, física e ciência dos materiais.

Deixe seu comentário sobre a sua experiência com o balanceador de equação química.